Escravos Cardíacos dos Sinos

Toda vez que você sede ao impulso de abrir uma rede social, você também se coloca sob o perigo de perder a si mesmo não só superficialmente, durante algumas horas do seu dia, mas igualmente de modo profundo.

Imagine alguém virtuoso, construa a imagem hipotética do ser-humano mais admirável do planeta e, a não ser que você seja uma criança idolatrando o líder hedonista de uma banda de heavy metal, imaginará alguém que, de forma geral, não sucumba aos próprios vícios.

Na parábola da biga, Platão cria a representação da imperfeita alma humana. Os cavalos são as nossas paixões, nossos impulsos irracionais e atrás, segurando as rédeas, está o condutor representando a razão. Para o filósofo, a vitória diária da razão sobre as paixões seria o principal meio para se guiar em direção às virtudes, pois sem um condutor, acabamos por nos perder dos próprios ideais.

Este controle, esta insistente luta por libertação dos mais diversos vícios, é o indício de determinação necessária para seguir o caminho em direção ao ser humano que você imaginou e decidiu que gostaria de ser.

A esta altura da modernidade você já deve saber que as redes sociais funcionam para pregar sua atenção e vender publicidade. Seja na forma de notificações ou de conteúdo sensacionalista, elas injetam pequenas doses de dopamina como recompensa para o seu cérebro continuar as consumindo. A modernidade está tão entrelaçada a estas redes que, em muitos casos, desaparecer delas seria também desperdiçar grandes oportunidades.

Para Aristoteles, alcançar a virtude requer tanto empenho quanto para Platão, porém, este ideal não se localiza exatamente num extremo, mas no equilíbrio entre as coisas. A coragem como uma virtude, por exemplo, se localiza entre a imprudência e a covardia. Se assim como ele, também considerarmos que a essência humana seja a razão, porque é isto que nos diferencia de todos os outros animais, a nossa virtude mais essencial se localizaria entre a razão pura e os sentimentos. Portanto, ser um humano extremamente sensível, criativo e ao mesmo tempo lógico e articulado, resultaria em um alto grau de singularidade.

Pensando assim, o único meio de se perseguir a virtude na era das redes sociais seria então utilizando a ferramenta da forma mais sábia e criativa possível. Se o mais fácil é compartilhar opiniões vagas sobre qualquer assunto, compartilhe as fundamentadas. Se o comum é fingir uma vida perfeita, exponha a aprendizagem dos seus fracassos. Se o mais cômodo é consumir, produza, pois segundo Aristoteles, o valor do ser humano aumenta na mesma medida em que ele se torna singular, isto é, insubstituível.

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11 comentários em “Escravos Cardíacos dos Sinos

  1. Sempre achei as redes sociais viciantes, sempre observei que as pessoas ficavam presas às postagens, sempre dependentes de novas postagens, sempre na espera, felizmente nunca me deixei dominar pela rede. Acesso as redes sem deixar que ela me domine.

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  2. Por isso sou antissocial. Jamais me rendi as amarraras das redes. Não por ser autossuficiente, não! Mas pelo medo de me expor, e por sempre ter percebido a máscara das pessoas em seus postes de imagens ou texto.

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